27 - Fevereiro A TEOLOGIA QUARESMAL....
A TEOLOGIA QUARESMAL DOS “MANOS”!
Dias atrás escutei um jovem dizendo para um outro, de característica franzina e debilitada: “Só ta o pó da rabiola mano”! Loucura minha ou não, mas isso não importa, extraí desta gíria um teor teológico, filosófico e artístico.
É preciso tomar consciência de nossa condição transitória, a própria sagrada escritura é realista em nos afirmar que não temos aqui nesta esfera terrestre marcada permanente e devemos viver cada momento de nossa finita existência humana como o primeiro, o ultimo e o único dia.
A filosofia pagã antiga nos apresentou entre seus pensadores o filósofo Heráclito que por sua vez nos levou a pensar o sentido de ser e existir no tempo, com a seguinte e clássica expressão grega “phanta Rhei”, que traduzindo significa “tudo escorre”, ou seja, tudo muda, tudo passa e o que é sensível muda.
No universo artístico e musical me vem a memória a lendária e revolucionária banda Legião Urbana do vocalista Renato Russo que cantava: “é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã” , em outras palavras, ele cantava que o amanhã é incerto e que o hoje é o que de fato existe e já é transitório e precário e o amor tem urgência de ser amado e amar já, neste momento cronológico.
E a quaresma começou e aquela frase ou gíria: “Só tá o pó da rabiola mano”, eu a ouvi na liturgia da quarta-feira de cinzas “Tu vens do pó e ao pó retornarás”, frases em contextos diferentes, mas com uma mesma particularidade, enfatiza que somos frágeis. Ser e se desfazer em pó é uma meia verdade, pois misturado a este pó está a luz que também faz parte da nossa constituição humana e aqui está a outra parte da verdade, ou seja, somos pó e luz. Somos poeira na luz e não podemos esquecer que somos pó e nem luz, ou ainda um ser finito que transcende para o infinito e aqui está a analogia ao pó e luz.
Teologicamente falando somos pó em nossa condição adâmica, transitória e luz em nossa condição crística-escatológica.
E aquela gíria voltou a ressoar nos meus ouvidos: “o pó da rabiola”, a tal da rabiola me fez lembrar na pipa de papel e bambu, com cola e linha e uma enorme cauda e é juntamente esta cauda que é ‘molecamente’ chamada de rabiola, que tem como função no pipa, de mantê-lo leve para subir e enfeitar o céu. Veja se isto não é o tempo da quaresma? Somos pó (carnal), mas se dermos linha e leveza ao nosso pipa (ser) existencial, chegaremos a meta que é o coração de Deus.
Se caminhando por aí você ouvir esta debochada e grotesca gíria de malandro: “Só ta o pó da rabiola, mano”, interprete-a teologicamente correto: sua condição mortal (pó) vai ressuscitar (rabiola), irmão!
Viu, os “manos” também fazem teologia, só que do jeito deles, e que os anjos digam amém!!!
A você uma santa quaresma, sacô!
Pe. Fernando Henrique Guirado |